sábado, 15 de setembro de 2012

Filosofia: Polêmica das Ciências

"(...) Não-especialista por profissão, o filósofo, se for honesto, padece de ter muito que aprender com os especialistas e poucas coisas a dizer-lhes que eles já não saibam. Será preciso, pois, ter saudade do tempo em que os filósofos eram ao mesmo tempo cientistas? Seria ingenuidade. Se hoje os cientistas não têm mais necessidade nenhuma dos filósofos nem, sobretudo, de se fazer filósofos, é na medida em que seus métodos estão em ordem, seus conceitos são universalmente admitidos e as querelas científicas rareiam. Que apareçam contradições (crise da teoria dos conjuntos, em matemática, no começo do século), que nasçam controvérsias (problema da hereditariedade do adquirido, em biologia), e bem depressa o cientista volta a tornar-se filósofo. Outro indício do mesmo fato nós encontramos no favor de que gozam as ciências humanas junto aos filósofos de hoje em dia: não será porque estas estão no mesmo estado de balbuciamento e de insegurança em que se encontravam o cálculo infinitesimal no século XVII e a mecânica no século XVIII? A filosofia é a polêmica das ciências quando estas estão pouco elaboradas o bastante para dar lugar a polêmicas: inseparável da juventude das ciências, afasta-se delas quando atingem a idade adulta, e pode-se dizer, penso, que o interesse filosófico oferecido por uma ciência mede com bastante exatidão seu inacabamento como ciência."

de "O Papel do Espaço na Elaboração do Pensamento Kantiano", texto de Sobre Kant, de Gérard Lebrun.
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